10 de set. de 2006

Em Monza (2006), Schumi anuncia sua aposentadoria em 2007

Muitos torcem o nariz para ele e não é para menos: arrogante, dono de uma competitividade que ultrapassa os limites da ética e de um temperamento frio, Michael Schumacher está longe da imagem de ídolo esportivo. Porém, goste a torcida ou não, os números insistem em colocar este alemão de Hürth-Hermülheim no lugar de maior piloto da Fórmula 1 de todos os tempos.

Com o anúncio da aposentadoria de Schumacher no final do ano, encerra-se uma era não só na categoria, mas também do automobilismo. Afinal, Schumacher detém nada menos que todos os recordes da Fórmula 1: além dos sete títulos mundiais, dois a mais que o segundo colocado, o argentino Juan Manuel Fangio, ele é o piloto que mais vezes cruzou a linha de chegada em primeiro lugar (90) e o que mais saiu da pole (68). Como se não bastasse, Michael também é o dono do maior número de voltas mais rápidas (75) e de pontos (1355).

Entretanto, mesmo a racionalidade dos números não consegue convencer os detratores do ídolo. Piloto que era visto como a maior ameaça à supremacia de Ayrton Senna, após a despedida de Alain Prost, Schumacher jamais pôde duelar em iguais condições contra o piloto brasileiro, morto em um acidente em maio de 1994. Com isso, uma incômoda questão persegue Schumi: até onde ele iria se o então tricampeão mundial não passasse reto na curva Tamburello?

Consciente de que esta discussão nunca terá fim, Schumacher se refere a Senna com respeito, mas evita comentar o assunto. Porém, faz questão de deixar claro que nunca foi um fã de carteirinha do brasileiro “Honestamente nunca quis imitar ninguém. Sempre quis ser eu mesmo. As pessoas tentam me comparar a outros pilotos do passado, eu sempre me recusei a aceitar as comparações”, comentou.

Outra provocação que Schumacher sempre foi obrigado a conviver é a acusação de que seus maiores adversários possuíam um nível inferior aos dos grandes rivais do brasileiro. Até mesmo Flavio Briatore, atual chefe da Renault e homem que o lançou na Fórmula 1, já chegou a dar declarações neste sentido.

“Ele chegou aqui em um momento adequado. Não tinha Ayrton Senna, Nigel Mansell e Alain Prost havia se aposentado”, opinou o dirigente. “Apenas Damon Hill e Mika Hakkinen estavam no grid. De algum modo, Michael teve sorte”, reconheceu.

Polêmico, Schumacher não é nem de longe um dos pilotos mais querido dos bastidores. Que diga Rubens Barrichello, companheiro de equipe do heptacampeão por seis anos consecutivos. “Nunca fomos amigos, amigos”, afirmou o brasileiro ainda em 2005. A declaração se referia aos claros privilégios que Schumacher sempre possuiu na Ferrari. “Lá o espaço não era tão igual para dois pilotos tentarem o mesmo objetivo”, emendou.

Campeão do mundo, o canadense Jacques Villeneuve talvez seja o maior desafeto público de Schumi. E com a sua dose de razão: na decisão da temporada de 1997, disputada em Jerez de la Frontera, o alemão simplesmente jogou sua Ferrari em cima da Williams do rival, repetindo a manobra que lhe deu seu primeiro título, feita em cima de Damon Hill.

Porém, na segunda oportunidade o golpe não deu certo e Schumacher foi parar na caixa de brita. Para piorar, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) considerou a atitude antidesportiva e o desclassificou da prova.

“O Michael só não é um grande campeão porque usa muitos truques sujos e porque não é um grande ser humano. O Senna jogou sujo também, mas fez com classe. Quando ele tirou o Prost da corrida de Suzuka, em 1990, avisou, antes da corrida, que ia fazer isso. Eu realmente não acho que o Michael ficará na memória das pessoas”, disparou Villeneuve.

Frio, Schumacher não se importa com os detratores, ao menos publicamente. Logo após o episódio onde o ferrarista parou seu carro durante os treinos classificatórios de Mônaco, supostamente para prejudicar Fernando Alonso, Damon Hill resumiu, de uma maneira inusitada, a postura de Schumacher. “Ele é como um rinocerante, pois parece sempre impenetrável quando recebe críticas. Tenho a sensação que ele não está nem aí para elas”, analisa.

Por outro lado, depois de tantas temporadas impecáveis, o alemão também recebe inúmeros elogios. “Estou feliz por tê-lo na minha equipe porque é o campeão mais importante que existe”, acredita o presidente do grupo Fiat, proprietário da Ferrari, Luca di Montezemolo. “Considero Michael Schumacher o melhor piloto que já correu pela Ferrari. Não estou falando apenas de velocidade, mas sim de consistência. Ele tem um bom relacionamento com a equipe até quando as coisas não vão bem”, completou.

Ex-piloto da Ferrari, o austríaco Gehard Berger acredita que a disputa de 16 temporadas é suficiente para Schumi. Mais um pouco, ele corre o risco de manchar a sua imagem. “É a altura para o Michael sair. Se ele ganhar o campeonato este ano, o timing fica perfeito. Ele está na Fórmula 1 há muito tempo, mas está envelhecendo. Todos nós tivemos que lutar contra esse fenômeno. Chega uma hora em que é preciso parar”, resume.

Fonte: Gazeta esportiva

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